Há mais de dez anos (uma década) atrás me indignava postando texto com o título “É de perder o sono (no mínimo)” no qual tecia comentários sobre os miseráveis resultados apresentados pelo Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no qual se dava a conhecer que 35,5% do total da população brasileira ou “normalmente” não comia o suficiente (um total de 9,2% da população) ou “às vezes” passava fome (totalizando 26,3% dos cidadãos).
DIAS, C. M. C. - 2024
Falava-se, então, que no quinto país mais populoso do mundo e na sexta maior economia do planeta mais de um terço da população diariamente “às vezes” passava fome ou “normalmente” não comia o suficiente. A fome fazia sofrer e seguia matando, principalmente, os mais vulneráveis com as crianças.
Entretanto, em 2014, pela primeira vez, o Brasil conseguia, depois de grandes esforços sair do assustador Mapa da Fome reduzindo significativamente os percentuais de pessoas impactadas diretamente pela Insegurança Alimentar.
Mas, dez anos depois, de acordo com a edição de 2024 do Relatório das Nações Unidas sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial (SOFI 2024), o Brasil retorna (entre 2018 e 2019) ao Mapa da Fome apesar de possuir quantidade de alimentos suficiente para todos.
Há estudos mostrando que atualmente cerca de 119 milhões de brasileiros sofrem com alguma privação alimentar e que 19 milhões dentre estes passam fome diariamente. Muito deste quadro preocupante e grave se deve, notadamente, aos inúmeros problemas gerados pela pandemia de Covid 19. No entanto, a carência de políticas consistentes, continuadas e robustas de combate à fome é uma causa, também, determinante.
Segundo os dados divulgados recentemente, 27,6% dos brasileiros (bem mais de um quarto da população do Brasil) estavam abaixo da linha de pobreza em 2023; sendo 18,2% com Insegurança Alimentar LEVE; 5,3% com Insegurança Alimentar MODERADA e 4,1% com Insegurança Alimentar GRAVE.
Se pelo IBGE a população do Brasil estimada em 2014 era de cerca de 203 milhões pessoas e em 2024 passou para 216 milhões de brasileiros, então diante dos percentuais sobre populações passando Insegurança Alimentar a situação da fome no Brasil, uma das dez maiores economias mundiais, segue sendo, no mínimo, apenas, temerária, assustadora, absurda.
Integrar o “Mapa da Fome” e/ou ter populações sofrendo qualquer grau de “Insegurança Alimentar” deveria ser inadmissível haja vista que se um único ser humano morrer pela falta de comida, já é cometido um crime hediondo.
Carlos Magno Corrêa Dias
01/08/2024